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A Grande Fome na China Comunista (1958-1962)

AGrandeFome

Da série: “Horrores do Comunismo”

Sob o domínio da figura tacanha e egocêntrica de Mao Tsé-tung, seu “Líder Supremo”, a China passou pelo período mais obscuro do século XX e do qual se tem registro até a atualidade.

Mao (cujo nome serve como uma luva) estava impaciente pela demora no processo de industrialização da China e revoltado com a resistência dos camponeses à coletivização do campo, dos meios de produção, de sua mão de obra e suas propriedades. “Como ousam se recusar a entregar tudo pelo qual trabalharam a vida toda ao Estado? Como ousam se recusar a trabalhos forçados e tentar proteger suas propriedades privadas? Que absurdo!” Provavelmente seja este o pensamento de Mao.

Então, em 1958, Mao Tsé-tung iniciou seu plano de coletivização forçada ao qual chamou de “O Grande Salto em Frente”, mas que se mostrou o “Grande Salto para a Fome”. Assim como Stalin causou o Holodomor na Ucrânia entre 1933-1934 com seu plano de coletivização, o mesmo ocorreu com a China entre 1958-1962 com a coletivização forçada de Mao. Os governos comunistas parecem ter um padrão histórico e hediondo de comportamento, mas falarei disso em outro artigo.

O Professor Frank Dikötter, da Universidade de Hong Kong, obteve acesso a documentos do Partido Comunista Chinês, até então secretos, os quais revelaram os horrores do período do “Grande Salto em Frente”. Foram quatro anos sombrios, de calamidade e desespero.

Segundo o Livro publicado pelo professor Dikötter (A Grande Fome de Mao) as estatísticas compiladas pelo Gabinete de Segurança Pública na época (1958-62) apontam para 45 milhões de mortes prematuras. A maioria das mortes causadas pela fome que se instalou com as políticas impraticáveis de Mao que atendiam à sua personalidade narcisista, não ao povo da China.

Falo em “personalidade narcisista” sem titubear, pois não foi apenas a impaciência de Mao (então há 10 anos no poder) com a marcha lenta do desenvolvimento econômico e a resistência à coletivização que o levaram a lança o “Grande Salto em Frente”, mas, principalmente, seu desejo de se tornar o Grande Líder do Campo Socialista. Seu desejo em ser maior que os demais levaram 45 milhões de pessoas à morte em apenas quatro anos.

O slogan do plano de Mao era: superar a Inglaterra em 15 anos. A Inglaterra era a maior potência industrial da época. Realmente a China de hoje ultrapassou os ingleses e faz frente aos Estados Unidos, porém, sem que qualquer mérito possa ser atribuído a Mao, pelo contrário, políticas mais “liberais” como a criação de zonas especiais e maior abertura econômica, atraindo multinacionais com mão de obra barata (devido a imensa oferta de mão de obra acima da demanda) e incentivos fiscais. Se no campo social a China de hoje continua com seu comunismo repressivo, no campo econômico a liberalização está em gradual expansão, mantendo nas mãos do Estado “apenas” setores considerados estratégicos para a economia do país (mas principalmente para a manutenção do Partido Comunista no poder e a expansão da riqueza de seus pares), o que não é ideal (pois a iniciativa privada pode sempre fazer melhor com menos custo, gerando mais empregos de melhor qualidade e renda maior), mas já é um avanço importante.

Voltando a Mao. O então Líder Supremo da China utilizou o que ele achava ser sua principal “arma” na perseguição ao desenvolvimento econômico e que permitisse ultrapassar a União Soviética e a Inglaterra: a mão de obra de milhões de trabalhadores, homens e mulheres (adultos) e crianças. Para tanto, coletivizou tudo que estava ao seu alcance e amontoou os camponeses em enormes comunas, que surgiram no lugar das propriedades privadas dos agricultores (fossem grandes ou micro).

Mas o grande problema não foi a falta de comida, mas o confisco dos alimentos pelo Estado para destiná-los à exportação e a utilização da comida como política de extermínio dos opositores e “inimigos” (reais e irreais), de repressão ao povo e eliminação dos considerados mais fracos e menos produtivos. Por exemplo, indivíduos conservadores e de direita foram deliberadamente levados à fome para que morressem, através do não repasse de alimentos, ou repasse de comida podre e em quantidade abaixo do mínimo. O mesmo foi feito aos que dormiam no serviço, os doentes, debilitados, deficientes e muito idosos. Todos propositalmente levados ao limite da fome para que morressem.

No período houve ao menos 3 milhões de execuções, por todo tipo de banalidade. No livro do professor Dikötter, há o relato de um pai que foi obrigado a enterrar vivo o próprio filho como punição por este ter roubado um punhado de grãos de uma das cantinas públicas existentes nas gigantescas comunas, onde a comida era distribuída “a colheradas”. Assim como durante o Holodomor causado por Stalin na Ucrânia, pessoas foram executadas por roubarem alimentos como uma batata, ou uma maça, durante os quatro anos do “Grande Salto em Frente”. Outro padrão histórico de comportamento dos ditadores comunistas.

Logo que o fracasso se mostrasse iminente, Mao criaria todo tipo de bodes expiatórios nos quais colocar a culpa (como hoje faz Cuba, Venezuela e Coreia do Norte, outro padrão). Claro, a culpa não poderia ser de suas políticas desprovidas do mínimo de ciência econômica, pois Mao com certeza era capaz de controlar a economia e jogá-la de um lado ao outro de acordo com suas vontades, independente dos fatores econômicos que geram escassez, como sucateamento dos serviços, demanda maior que a oferta e balança comercial muito desfavorável (como a causada pela exportação de alimentos em grande escala, causando o desabastecimento interno) e o cálculo dos preços, impossível no comunismo (e no socialismo). O Grande Líder se mostra um Grande Idiota.

No desespero de impedir a descoberta da verdade, muitas fotos e documentos foram destruídos pelos comunistas maoístas quando a Ditadura Comunista (desculpe o pleonasmo) de Mao entraria em crise durante seus 10 últimos anos, de 1966 até 1976 (quando morre o ditador), devido a insatisfação de diversos membros quanto aos nefastos resultados das políticas utópicas de Mao e seu novo plano de “Revolução Cultural”.

Porém, além de diversos documentos, o professor Dikötter encontrou nas mãos de um pesquisador chinês uma foto de um caso de canibalismo desencadeado pela fome (outros documentos, descobertos por ele, mostram que casos assim ocorrerão em todo o país) onde um rapaz está parado em frente uma “bacia” com uma criança (seu irmão) desmembrada. Casos extremos como comer lama e fezes também estão registrados. Os chineses foram levados ao fim da moralidade humana.

Mao ficou no poder entre 1949 e 1976 (27 anos) e em apenas quatro anos obteve um saldo impressionante de 45 milhões de mortos, qual será o número total (certo ou aproximado), somados esses 4 anos aos demais 23, da Ditadura Comunista? Responderei a isso em breve, em artigo futuro desta mesma série.

Por Roberto Lacerda Barricelli

Fontes:

Livro – A Grande Fome de Mao (Dikötter, Frank. Dom Quixote, 564 páginas. Ano: 2010)

Mídia Sem Máscara – http://www.midiasemmascara.org/artigos/internacional/china/12781-a-grande-fome-de-mao.html

Jornal Data Base – journaldatabase.org/articles/grande_salto_para_frente_grande_fome.html

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Partido Comunista Chinês tenta “esquecer” o 120º aniversário de Mao Tsé-tung

Mao

Hoje, 26 de dezembro de 2013, é o 120º aniversário de um dos maiores assassinos da história, “pai” do comunismo chinês, Mao Tsé-tung, responsável pela morte de milhões de cidadãos durante sua ditadura (1949-1976). Sabendo do quão controversa é a imagem do “Grande Líder”, o Partido Comunista Chinês se esforça para controlar as comemorações dos próprios pares, temendo as críticas de membros, apontando desvios da própria ideologia comunista.

O PCC também não pretende dar mais força à mídia internacional crítica à Mao, nem aos poucos cidadãos com coragem que se opõe à nefasta figura de Mao.

Na tentativa de aliviar a tensão, o PCC realizou uma pesquisa sobre Mao na qual 85% dos chineses disseram que os acertos foram superiores aos erros. A pesquisa foi realizada com 1.045 pessoas, por telefone. Uma tentativa patética de elevar a defasada figura de Mao. Vamos aos fatos:

1 – A pesquisa foi realizada por telefone por pessoas ligadas ao PCC com 1045 cidadãos. Sabendo que há estrita censura e perseguição a opositores na China, qual a probabilidade de um chinês responder à pesquisa como acha que o PCC deseja que ele responda?

2 – Quem são essas pessoas? Não há permissão para outra versão que não a do PCC e podem ser todos partidários, o que inclusive ajudaria o partido a encontrar “críticos” no próprio quintal e “catalogá-los”.

3 – O país tem mais de 1 bilhão de pessoas e a pesquisa foi realizada com apenas 1.045. Apenas 0,0001% da população respondeu à pesquisa. O quão assertiva ela é?

4 – O quão confiável é uma pesquisa sobre um ditador, feita pelo partido criado por este que está no poder e instalou a repressão e censura sobre os cidadãos? 

5 – Se a pesquisa fosse tão “confiável” não haveria motivo para se preocupar em “dar força” aos “pouquíssimos” cidadãos críticos ao “Grande Líder”.

6 – Se o comunismo de Mao fosse tão bom, porque o PCC quer impedir que a ala mais à esquerda do partido ganhe força?

A ala citada no item 6 critica os desvios das políticas econômicas do PCC nos últimos 20 anos que se desviaram da ideologia comunista, políticas estas que estão revertendo o mal causado por Mao e permitem o crescimento acentuado da China. O principal “argumento” é a crescente diferença entre ricos e “pobres”. Porém, os “pobres” estão aos poucos ascendendo economicamente na China e em breve devemos ver o surgimento de algo impossível em “economias comunistas”, a classe média.

Os comunistas odeiam a classe média, pois esta personifica a possibilidade de crescer economicamente através do próprio esforço e mérito, ao invés de benefícios concedidos pelo Estado. Significa também o fim de diversos “mascotes” aos quais chamavam de “minorias”, sendo a minoria justamente os “mais pobres”, no caso chinês.

Enquanto a ala mais comunista do PCC se preocupa com a desigualdade relativa (que nada mais é que a diferença econômica entre as pessoas) os mesmos fecham os olhos para o verdadeiro problema, a miséria absoluta, causada na China pelo comunismo de Mao, que levou milhões de pessoas à morte por fome. Enquanto a desigualdade é relativa e causa no máximo a inveja dos idiotas úteis, a miséria absoluta mata.

Outro ponto interessante, se Mao fosse uma figura quase unânime e adorada, qual seria o motivo então para o governo gastar 12 milhões de euros com uma estátua de outro e Jade e mais US$300 milhões com propaganda oficial enaltecendo Mao (em tocar nos erros) e demonizando seus críticos (seus criticar os argumentos) através da mídia oficial (toda pertencente ao PCC)?

Ainda mais contraditório é o próprio presidente da China, Xi Jinping, que hora elogia Mao, hora lembra a todos que ele “não foi um santo”. O próprio Xi Jinping sofreu na pele com a Ditadura Comunista (olha o pleonasmo) de Mao, pois seu pai foi preso durante a “Revolução Cultural” e ele foi enviado para viver com camponeses.

Dizem que a grande conquista de Mao foi retirar a China do feudalismo, mas o que ignoram é que todas as nações que passaram pelo sistema feudal viram sua falência e tiveram que se readequar. Houve guerras? Sim. Houve conflitos diversos? Sim. Mas foram parte do processo histórico do fim do feudalismo e surgimento de outras classes, como (principalmente) a Burguesia, que é demonizada pelos comunistas, que ignoram sua importância para o desenvolvimento econômico e industrial das maiores potências do mundo. Mao tentou pular essa etapa histórica e o resultado de um tentativa de desenvolvimento econômico e industrial forçado foi a morte de milhões de chineses.

Se hoje a China é uma potência econômica e industrial, isso se deve a maior abertura aos donos de capital (os tais burgueses), a atração de multinacionais com mão de obra barata (devido a oferta dessa mão de obra ser superior a demanda) e minimamente qualificada (hoje mais qualificada devido aos investimentos desses donos de capital que geraram tal necessidade). O governo mantém em suas mãos “apenas” os setores que entende como essenciais para a manutenção de si próprio e do PCC no poder, algo que não é o melhor, mas já consiste em um grande avanço. Importante frisar que mesmo essas “estatais” possuem “donos” ligados ao PCC e que visam o lucro, agindo como empresários dentro do mercado, o que os distancia da ineficiente administração estatal. A tendência futura é a “privatização” no longo prazo dessas empresas a tais (ou outros) membros do PCC, mas demorará pelo menos 15 anos até que ocorra e caso a China continue trilhando um caminho econômico contrário ao de Mao.

O que ainda falta é a abertura social, ou seja, a devolução das liberdades individuais e o fim da censura, que hoje são utilizadas como instrumento de alienação popular e manutenção do PCC no poder. Mais aí é outra história e bem mais complicada.

O que importa hoje é frisar que Mao é uma figura tão nefasta e defasada, que o próprio partido que fundou, em 1921, busca atualmente o equilíbrio entre se afastar da imagem do ex-Ditador, mas mantê-la como a de um “Grande Líder” apesar de determinados erros, que tentam minimizar focando em falsos acertos, no imaginário popular.

Por Roberto Lacerda Barricelli

Fontes:

Terra Notícias – Ásia – http://noticias.terra.com.br/mundo/asia/china-celebra-com-contencao-120-aniversario-de-nascimento-de-mao,d6e83efaeaa23410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html

A Bola (Portugal) – http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=449403

RR (Renascença) – Jornal de Portugal – http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=26&did=133782

Yahoo Notícias – http://br.noticias.yahoo.com/l%C3%ADderes-chineses-visitam-mausol%C3%A9u-mao-120-anivers%C3%A1rio-nascimento-115152808.html

DNA Índia – http://www.dnaindia.com/world/report-mao-zedong-made-mistakes-chinese-president-xi-jinping-says-1940965

Terra Notícias – Ásia – http://noticias.terra.com.br/mundo/asia/meritos-de-mao-o-colocam-acima-de-seus-erros-segundo-pesquisa-oficial,59c9ea9f84523410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

Jornal – O Estado de São Paulo (Estadão) – http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,por-que-a-china-ignora-sua-maior-crise-de-fome-,984011,0.htm

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